Falar de Mágoa é descrever um afeto, ou desgosto recolhido e, por isso, revivido.
Este prefixo -re também aparece na palavra ressentimento, já que ela é composta por re + sentimento= sentir de novo. Trata-se da ação do sujeito de endereçar ao outro sentimentos de hostilidade, ódio e rancor acumulados, bem como lhe atribuir a autoria dos males que o afligem. E como é frequente, fácil e cômodo atribuir ao outro todos os percalços de nossa vida.
A mágoa pode ser acionada por formas distintas de gatilhos. Seja defrontando diretamente com objeto a que se destina nossos sentimentos, ou pela lembrança indireta promovida por terceiros.
Tal como uma mancha, quando magoados, carregamos esta impressão desenhada em nossa estrutura psíquica. Há como extingui-la? Por ser um afeto, cabe desconstruções, mas não pela via do perdão, ou do esquecimento. Por isso que sempre elegemos o processo de ressignificação como essencial, neste caso. A mágoa não é um sentimento passageiro, pelo contrário, mesmo esquecendo do objeto ao qual é dirigida, ela vem sempre à tona como uma espécie de reciclagem afetiva. Rememorar ocasiões, ou situações desagradáveis nomeando os sujeitos envolvidos nestes contextos, marca em nossa história a atribuição de culpa dos nossos males e frustrações. É assim que acumulamos, recolhemos e guardamos os destroços de nossas experiências desastrosas, sempre infelizes. Ninguém guarda mágoa por situações agradáveis, logo a marca, a mancha negativa pode nunca sair. Daí se justifica a clínica psicanalítica. A tarefa instituída entre analista e analisando pretende, não apagar as manchas, mas entender que mesmo permanecendo com as máculas, podemos conviver com o mínimo de energia psíquica despendida na manutenção deste afeto.
Paulo Bandeira
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