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Foto do escritorPaulo Bandeira

Você conhece e aceita suas limitações?


Desconfio muito de algumas perspectivas motivacionais que impõem o lema: "Você pode tudo e é capaz de tudo". Atrevo-me: "sejamos todos incapazes de tudo"! Saber quais são as nossas limitações não significa deixar de sonhar e almejar coisas melhores.

No entanto, é imprescindível identificar e reconhecer nossos limites. Não conseguir identificar até onde me cabe mudar uma situação, pode levar o sujeito a carregar um fardo pesado demais. Evitar reconhecer certas fragilidades desencadeia no indivíduo uma necessidade de "dar conta de tudo". Esta necessidade que demanda toda energia investida em "ser capaz de..." pode surtir sérias consequências sintomáticas. E o que vejo na clínica são dores de cabeça, no maxilar, nas costas ou no peito. Seria importante, em cada situação particular, passar da identificação dos nossos limites à iniciativa do reconhecimento de que não temos que dar conta de tudo e de todos sozinho. Reconhecer que temos um papel específico e limitado a desempenhar, nos diversos ambientes sociais, já é um começo. Ser pai, ser mãe, marido, esposa, seja qual for a sua atuação profissional exige este exercício diário da delimitação de nossas ações. Entre a impotência e possibilidade de "chegar lá" seja onde, ou o que for, deveria existir o reconhecimento de nossas incompletudes. Ser pleno em tudo já é um sintoma. Saber conviver com as faltas e possíveis frustrações ameniza o sofrimento e a autocobrança. Cobrar-se demais desencadeia quadros de autopunição. Punir-se por não conseguir suprir que necessidades? Por metas instituídas por nós mesmos? Se não por nós, a quem estou a procura de atender expectativas impostas? Esta busca desenfreada para atender as nossas próprias demandas e as dos outros podem ser localizadas também na história de cada um. Um trabalho que, em análise, diz respeito ao próprio sujeito. Muitas metas nos são impostas pelas necessidade de suprir uma falta. Obedecemos a um alguém que, num primeiro momento, não identificamos por quem. Fugimos (recalcamos) diante de qualquer ameaça de "fraqueza". Se escolher é perder, o que fazemos com isto?


Paulo Bandeira


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